domingo, 8 de junho de 2014

Crítica: “Vitória” é mais do mesmo com pitadas de novidade

Por Julio Cesar Fernandes

A novela “Vitória” estreou na última segunda-feira (02) na TV Record como uma opção à “Em Família” da concorrente TV Globo, conforme a própria emissora de Edir Macedo divulgou.

O romance do casal protagonista ameaçado pelo pai da mocinha que não os aceitam juntos, o bem versus o mal, e outros vários ingredientes melodramáticos fazem da trama escrita por Cristianne Fridman um folhetim genuíno.


“Vitória” tem o mundo dos cavalos como pano de fundo. Inclusive a personagem-título é uma égua. Muitas outras novelas na história da teledramaturgia também já usaram haras e os cavalos em suas tramas, como “Laços de Família”, da TV Globo e  “Estrela de Fogo”, da própria Record.

A novidade, que nem é mais tão nova assim na teledramaturgia brasileira, está no enredo principal: a vingança. Digo que não é uma grande novidade, pois “Avenida Brasil”, de 2012 da TV Globo, apostou nisso e se tornou um grande sucesso no Brasil e fora também (“Avenida Brasil” já é a novela brasileira mais vendida para outros países.)


Outro ponto de “novidade” é o protagonista-vilão, que em “Vitória” é Artur, vivido  pelo ator Bruno Ferrari. Em 2013, a TV Globo teve um outro sucesso com o vilão que se tornou o protagonista da novela: o Félix (Mateus Solano) em “Amor à Vida”.
Entretanto, a novela tem sim novidades e temas polêmicos. O protagonista-vilão-vingador Artur é cadeirante. O personagem é abandonado pelo pai, Gregório (Antonio Grassi) após sofrer um acidente com um cavalo e ficar paraplégico. Após anos, ele descobre que o homem não é seu pai biológico e arma uma vingança: namorar Diana (Thais Melchior), filha de Gregório, e sua “irmã”, visto que ninguém sabe que ele não é filho biológico.

O fato de Artur ser cadeirante não o impede de fazer suas maldades, como internar a mãe em um hospício. Além de demonstrar uma quebra de tabu: não é porque o personagem tem uma deficiência, que ele precisa ser sofredor e digno de pena.
Vale destacar a cena de sexo do casal protagonista, que de forma sutil abordou a questão do cadeirante, sem muita pieguice e até com certo tom de humor.

O trabalho infantil e o abandono escolar também são discutidos. Mesmo que de uma forma romantizada, as cenas do menino Cicinho (Pablo Mothé) emocionaram  nesta primeira semana de exibição. E o assunto mais delicado e inédito que “Vitória” se propôs a discutir é o neonazismo. O grupo liderado por Priscila, interpretada magistralmente por Juliana Silveira,  ataca gays, nordestinos e negros. Já na primeira semana foi mostrado, de forma branda (se é que é possível), o assassinato de um negro e a ocultação de seu cadáver pelo grupo neonazista.

A primeira semana de “Vitória” mostrou que a autora tem histórias paralelas em núcleos distintos para desenvolver, que vão do humor ao drama. É preciso certo cuidado e habilidade para não atrapalhar o telespectador.

Já no primeiro capítulo a história foi apresentada ao público, mas a passagem de tempo foi muito acelerada: em um mesmo capítulo a mocinha Diana odiava Artur sem nem mesmo conhecê-lo, depois foi apresentada a ele em um outro país, e logo dizia “eu te amo” e trocava carícias.

Outra confusão foi a aparição repentina do personagem Léo, vivido por Dado Dolabella. O ator foi expulso da produção por questões de agressão, mas para não desperdiçar as cenas que ele havia participado (parte fora do Brasil), a direção optou em mantê-lo na trama. Uma solução equivocada certamente. A melhor saída, já que Dado foi expulso, era ter dado um melhor destino ao seu personagem desde o início: tirá-lo completamente da novela e regravado as cenas.

Por fim, “Vitória” tem tudo para dar certo, vamos aguardar e acompanhar o desfecho da vingança de Artur, intercalada com cenas de ódio de Priscila, a emoção de Cicinho e, claro, das corridas de Vitória: a personagem-título.

Fotos: Reprodução/Rede Record

Um comentário:

  1. Julinho, olha a novela no Brasil é um segmento de sucesso, sem dúvida. Por pior o tema, as pessoas já habituadas, pareciam que engoliam qqr coisa. Mas o público mudou, passou a ser mais crítico e também, a ter mais opções. A TV a cabo transmite as séries que nada mais são do que "novelas" e algumas bem rocambolescas, e eles não tem o pudor de deixar por anos, a série que cai no gosto do público. E a gente vai acompanhando. São temas interessantes, outros nem tanto, mas acompanhamos. As nossas novelas tem "vida curta" aqui, até pq são capítulos diários, e é super difícil de escrever roteiro diariamente (creio eu). Então, com todo esse conhecimento de causa que temos em fazer novelas, porque não podemos colocar mais opções, espaçando as histórias? Às vezes a trama é tão ruim, como essa "Em Família", que talvez, a Record melhore sua audiência com "Vitória" justamente porque é uma história tão conhecida, que já sabemos o final.

    ResponderExcluir