Por Fernanda Serralvo, Terapeuta de Casal e Família.
E-mail: fserralvo@live.com
"O amor é, talvez, aquele processo delicado através do
qual eu te acompanho ao encontro de ti mesmo." Antoine de Saint- Exupéry
Teve sua trama marcada pelo quadrilátero
amoroso entre Carlos (José Mayer), Sheila (Lilia Cabral), Paula ( Carolina
Ferraz) e Helena (Regina Duarte).
Nos primeiros capítulos da novela Carlos
vivia um romance com sua colega de faculdade Sheila. A relação era
caracterizada pela amizade e
companheirismo. Como dividiam o mesmo espaço de trabalho na Clínica,
ambos mantinham-se sempre próximos. Entretanto, não era uma relação dita
“formal”, com planos de futuro.
Ao conhecer a jovem e atraente Paula,
Carlos se encanta e rompe relações com Sheila. Não demora muito para o casal
fazer planos de casamento. A relação é marcada pelo ciúme descontrolado de
Paula por Carlos, por seus “xiliques” de moça mimada e insegura. Contudo, por
'sorte' está ao seu lado, um homem com sabedoria e equilíbrio, o que facilita
para lidar com o comportamento da moça. Apesar das crises de ciúme e brigas sem fundamentos, a paixão, o carinho são ingredientes presentes nesta relação. No
entanto, no dia de selar os votos de casamento, Carlos já no caminho da igreja,
presencia uma cena de briga entre o casal de namorados Joyce (Carla Marins) e
Caio (Ângelo Paes Leme). A moça é empurrada do jipe por seu namorado. Carlos a
socorre, leva à sua clínica e a revela sua gravidez. Apesar de chegar atrasado
a cerimônia e se deparar com sua noiva aflita por tanto esperar, o médico não
tira a cena de violência de sua cabeça.
E ao visitar Joyce, Carlos se encanta pela
mãe da moça, Helena. A típica mulher brasileira, de meia idade que luta para
pagar as contas do mês. Amorosa, amiga e educada. A mulher simples chama a
atenção do médico e, a partir de então, a relação dá uma reviravolta. Carlos
rompe com Paula e luta por seu novo amor. Carlos e Helena se apaixonam e todos
os esforços são feitos para que esse amor seja vivido.
Simultaneamente o médio permanece recebendo
os assédios de Sheila, que atravessa o limite da sanidade e ética para a
reconquista de seu amor. Paula, desconsolada com a separação, usa de sua
fragilidade e dependência para tentar reconquistar seu marido.
Voltando ao tema . . .
Antes
de mais nada vem a pergunta... Podemos escolher quem amar!? Está em nós o
controle de amar ou de deixar de amar!? Penso que não!? Muitas vezes nós também
não sabemos explicar em palavras o porque amamos alguém, talvez porque na área
do amor não procuramos muitas explicações.
Proponho
sairmos um pouco do contexto da trama de “Historia de Amor” de Manoel
Carlos, e pensarmos um pouco no assunto de forma geral.
São
diversos os motivos que faz nos encantarmos por alguém, seja pelo jeito, gesto
do outro, forma do outro ver a vida. Somos atraídos pelas semelhanças do outro,
pelas diferenças, enfim, são infinitas as possibilidades de caminhos que nos
levam a amar. Por outro lado, há pessoas com as quais não conseguimos nem
cogitar a possibilidade de encarar uma relação.
É
importante destacar algumas dinâmicas que se dão no processo da escolha do
parceiro.
Primeiramente,
que nossas escolhas pelo parceiro estão intimamente ligadas a motivações
inconscientes: Desde a mais tenra infância, somos conduzidos a aprender
basicamente tudo, a andar, a comer, a vestir-nos, a desenhar, enfim, são várias
as atividades que somos treinados no dia a dia. Assim também não é diferente
com o casamento. São construídos em nós, ao longo da vida, “conceitos” do que
vem a ser o casamento, conceitos estes oriundos de experiências pessoais. Em
muitas famílias há a ideia de que casamento é um sonho a ser realizado, e todas
as investidas, projetos e comunicação perpassam para a realização deste sonho. Já em outras, o casamento é algo tão negativo que precisa ser rechaçado, que
casamento nada tem a ver com felicidade. Não há dúvidas de que ocorrerá
diferentes resultados entre esses dois padrões no estabelecimento do casamento,
ou do não-casamento. Pode-se dizer que, é através desta dinâmica que são
construídos os mitos e os legados familiares.
A escolha
do parceiro é motivada e tem consequências transgeracionais, ou seja, nos
remetemos ao nosso modelo parental. Neste caso, nossa figura de referência – pai
e mãe – é nosso modelo a ser seguido ou evitado. Nossas expectativas,
idealizações são em função desta figura. A partir da visão da relação dos pais,
o indivíduo cria um esquema de como relacionar-se consigo mesmo e no futuro com
seu parceiro, incluindo a expressão de afeto, a forma de resolução de conflitos
ou manejo das dificuldades enfrentadas. A tendência neste caso, é que haja uma
manutenção de padrão familiar. Um claro exemplo é quando a filha cresce ao lado
de um pai violento, onde esta presencia diversas cenas de agressão para com sua
mãe, e ao crescer a filha casa-se com um homem que a agride. Também existe o
caso onde a busca pelo parceiro é totalmente averso. Quando há a negação desta
figura, e a busca pelo parceiro seria pela diferença. O exemplo deste segundo
seria a filha que tem o pai constantemente desempregado em casa, e esta se une
ao parceiro que trabalha excessivamente.
Pais
maduros constroem filhos seguros. E isso muito tem a contribuir para a escolha
do parceiro. Numa época em que os arranjos familiares são os mais diversos
(pais divorciados, pais recasados, maternidade\paternidade independente, união
homoafetiva), também aumenta o desafio na criação dos filhos. Contudo, há um
ingrediente salutar para o estabelecimento e manutenção de uma relação
funcional. A boa comunicação é fundamental para a criação de vínculos e afetos.
Através da comunicação eu conheço o outro, e o outro tem a chance de me
conhecer. Nesta dinâmica saudável, possibilitamos a escuta, a acessibilidade, e
principalmente o sentimento de pertencimento ao grupo familiar; e a medida que
crescemos há a clareza do que queremos e do que não queremos como casamento.
Concluindo,
seja qual for a forma em que se estabelece uma relação, o casamento demanda dos
parceiros esforços no sentido de construir sua nova identidade, já que deixará
de ser filho e passará a exercer um novo papel, agora como cônjuge; construindo
juntos uma nova família. E nesta caminhada, é preciso um constate
amadurecimento emocional, para passar pelas mudanças inerentes ao ciclo de vida
do casal. Quando os casais desconhecem essas mudanças, a possibilidade de crise
conjugal é grande. E muitos, não sabendo lidar, buscam subterfúgios, como na relação
extraconjugal, trabalhar excessivamente para não olhar para o casamento, entre
outras forma de sabotar a relação.
Entretanto,
há casais que procuram ajuda na Terapia de Casal para superarem as crises. Um
recurso muito útil para pensarem a conjugalidade e se verem além das culpas e
acusações. Um espaço onde se possibilita ao casal pensar os “porquês” de suas
escolhas, para terem a chance de ressignificar a relação e sair desse processo terapêutico sob
uma nova ótica relacional.
Fernanda Serralvo - Terapeuta de Casal e Família Foto: Arquivo Pessoal |
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