sexta-feira, 16 de maio de 2014

O Padrão de Qualidade da TV Globo

Por Pedro Fuoco Andrade


Anúncio do Padrão Q de Qualidade da TV Globo 
(Foto: google.com.br)
O padrão de qualidade da TV Globo é referência no Brasil e no Mundo e está presente em todos os programas da emissora. Walter Clark foi o primeiro diretor-executivo e, depois, diretor-geral da TV Globo, com o objetivo de reestruturar o setor comercial e, sobretudo, reformular a programação, pois até aquele momento a emissora apresentava modestos pontos de audiência no Rio de Janeiro, ficando atrás de várias emissoras, como TV Excelsior e TV Tupi. 



Pouco tempo depois, a TV Globo, que já vinha apresentando sensíveis melhoras nos seus índices de audiência, ganhou definitivamente a simpatia do público carioca e, em março de 1967, Clark foi o responsável pela contratação de José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, para o cargo de superintendente de produção e programação. Seu novo contratado o ajudaria a implantar o modelo de programação que levou a TV Globo ao posto de líder de audiência no país. As ideias dos dois deram tão certo que até hoje estão na grade da emissora, como levar ao ar um programa jornalístico intercalado entre duas novelas no horário nobre e a criação de programas de grande sucesso, como o "Fantásticoe o "Globo Repórter", ambos em 1973, entre outros.

'Roque Santeiro', sucesso da década de 1980
(Fotos: google.com.br - montagem: blog)
Walter Clark contratou Boni e o padrão de qualidade da TV Globo começou a ser formado na década de 1970, com a direção do contratado, que reformulou a programação da rede com novos programas que iam mais ao gosto do público da classe média brasileira em substituição aos popularescos que eram exibidos na época, com Dercy Gonçalves e Abelardo Barbosa, o saudoso Chacrinha. Com essa nova era, esses programas acabaram e a TV Globo passou a adotar uma estética glamourizada e o cafona não fazia mais parte desse padrão.

Com essa mudança, a emissora elevou o nível de produção e seus índices de audiência sempre cresceram, pois tinha uma programação muitas vezes mais primorosa que a de outras emissoras. Na mesma época, Hans Donner, que comanda o departamento de criação visual da TV Globo até hoje, criou uma linha estética visual característica da emissora, que a identificava e que a consagrou. E foi muito por causa dessa mesma identificação criada com o público que a TV Globo é, ainda hoje, líder de audiência.

O padrão de qualidade da TV Globo foi mudando ao longo dos anos e hoje muitos acreditam que ele foi abandonado para que a emissora pudesse ousar e se transformar, para assim, acompanhar as tendências do mercado e do público, que foi mudando ao longo do tempo. Sem contar a internet, que fez os telespectadores se afugentarem da tela da TV e migrarem para a nova tecnologia, ao qual permite ao usuário mais liberdade em relação ao conteúdo, com os serviços ON DEMAND de empresas como Netflix e Telecine Play.

Um exemplo da possível perda desse padrão foi a mudança visual de programas clássicos, como Sessão da Tarde e Vale a Pena Ver de Novo, que perderam o logotipo tridimensional característico de Hans Donner e seguiram tendências internacionais do design, como a preterição por programas visuais mais “flat”, mudando uma característica pela qual era identificada, o design futurista tridimensional. O design “flat” consiste em se livrar de bordas, gradientes, sombras e reflexos e esses novos logotipos da TV Globo são planos e raramente introduzem dimensionalidade, sombras ou texturas, contando apenas com a rolagem e a clareza visual para se comunicar.

Hoje a TV Globo inova e se arrisca em novos produtos para entender o que o telespectador quer ver e de que modo ele quer ver, alternando novamente o padrão de qualidade conhecido até então, pois a emissora tem “testado” diversos programas que podem ou não ter aceitação, por contar com histórias ousadas ou com artistas menos conhecidos, como em ‘‘Além do Horizonte’’. De acordo com Luciano Callegari, de 75 anos e ex-braço direito de Silvio Santos, em entrevista ao site “Notícias da TV”, a TV Globo está ‘testando’ os programas no ar, como balões de ensaio.

Evolução da marca da TV Globo, de 1965 até 2014 
(Foto: Globo)
Ainda para Callegari, as mudanças que vêm ocorrendo na TV Globo, em primeiro lugar, têm a ver com o distanciamento do padrão de qualidade. Para ele, com a saída do Boni, foi-se percebendo que alguma coisa estava mudando muito gradativamente. A falta de um líder rigoroso na parte artística possibilitou um relaxamento em algumas regras que eram seguidas a risco. Com respeito às mudanças verificadas nesses últimos meses, percebe-se que a TV Globo deliberadamente está abandonando um padrão de muitos anos. 

Mas muitas dessas mudanças são decorrentes de uma certeza: a TV não é mais o meio de entretenimento favorito dos jovens e não só a TV Globo, mas todas as emissoras, precisam se reinventar e se atualizar no tempo, contudo, essa descaracterização de um padrão de décadas poderá vir a ser muito arriscado. As temporadas curtas de programas é o que está embaralhando um pouco a cabeça do telespectador. Acostumado com uma programação ao longo dos anos, ele se perde um pouco nesses lançamentos a toda hora, como acontece agora, no lançamento de “2ª Dama” no meio de maio, e não em abril, como as outras estreias. Nesse aspecto a Globo ousa e corre o risco da dispersão de sua audiência.

A mudança de programas e do padrão de qualidade são exemplificados, recentemente, com dois casos importantes para a emissora: a contratação de Marcelo Adnet e a reformulação do “Vídeo Show”.

O comediante Marcelo Adnet foi contratado pela TV Globo e foi criada uma grande expectativa em relação ao seu programa na emissora, pois seu estilo de humor não se assemelha ao visto nos programas dela. Seus trabalhos foram duramente criticados por especialistas e pelo público por não usarem o melhor que o Adnet pode oferecer na emissora. Somente com ‘Tá no Ar: A TV na TV’, de 2014, que o humorista se ‘redimiu’ e seu programa, com Marcius Melhem, foi bastante elogiado pela crítica e pelo público por tratar de outras emissoras e não só da TV Globo, dando liberdade aos roteiristas e mudando uma política que há muito estava vigente: a de não falar de outras emissoras.

O “Vídeo Show” foi reformulado em novembro de 2013 e foi criticado por mudar radicalmente o estilo do programa, deixando os bastidores em segundo plano e prevalecendo a participação dos artistas em um palco, com Zeca Camargo. A TV Globo tentou fazer com que o programa fizesse sucesso mais nada adiantou. O propósito dessa reformulação foi tentar alavancar os índices da emissora no período da tarde. Contudo, o resultado foi o oposto e atualmente o programa perde — ou empata — constantemente para o Balanço Geral, da TV Record, mesmo com as recentes mudanças que aconteceram para tentar reverter o quadro, como a volta do ‘Novelão’ e do ‘Falha Nossa’ além da diminuição do tempo de palco e da maior quantidade de matérias de bastidor e arquivo.
Primeiro logotipo do 'Fantástico'
(Foto: google.com.br)

Atualmente, outro programa enfrenta essa crise de audiência após a reformulação do mesmo: o tradicional “Fantástico” está amargando baixos índices de audiência após a estreia de um novo formato de apresentação, o que está fazendo a emissora voltar, gradualmente, ao antigo modo de apresentar o dominical, sem a reunião de pauta e os ‘fantcons’, as ‘emoticons’ do “Fantástico”.

A rejeição do público está atingindo também a dramaturgia da emissora, caso de “Em Família”, que tem uma narrativa lenta e personagens sem carisma e humor. A antipatia dos personagens é tão grande que as recentes mudanças não surtiram efeito e a audiência segue abaixo do esperado. Em maio de 2013, a maior audiência da TV Globo foi de 45 pontos, com a novela das 21h “Salve Jorge”. No mesmo período de maio, em 2014, o recorde foi de 30 pontos, com “Em Família”.

Programas atuais da TV Globo
(Fotos: Globo - montagem: blog)
“Meu Pedacinho de Chão”, a novela das 18h da TV Globo, é uma bela novela que faz parte do Padrão de Qualidade Globo mas é esteticamente inovadora para o horário,  o que afugenta o telespectador mais tradicional. Entretanto, a qualidade da história vem agregando cada vez mais espectadores e a audiência do horário vem se recuperando, visto o recorde de audiência dado no dia 12/05, com 21 pontos, audiência que a novela anterior, “Joia Rara”, só pontuou na reta final.

“Malhação” também apresentou problemas, mas atualmente em menor escala, por causa de ‘Caras e Bocas’ que entrega para a novelinha adolescente com boa audiência. A recém-terminada “Além do Horizonte” melhorou em audiência após o esforço da emissora em fazer o público aceitar a trama e, assim, mais humor foi inserido e mistérios foram revelados mais rapidamente. 

“G3R4ÇÃO BR4S1L”, a nova novela das 19h da TV Globo, começou recentemente mas já enfrenta problemas de audiência, o que motivou a emissora a pensar em pedir um grupo de discussão antes do previsto para adaptar a trama ao gosto do público. Os executivos acreditam que a baixa audiência da trama possa ser consequência de um tema e elenco jovens demais, o que não atrai o público mais velho, por não ‘mergulhar’ na história.



Informações extraídas de: 

www.gizmodo.uol.com.br/ (Definição de “flat design”);
www.noticiasdatv.uol.com.br/ ( Trecho de entrevista de Luciano Callegari);
http://pt.wikipedia.org/wiki/Walter_Clark/ (informações de Walter Clark).

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