quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

A Escolha do Amor

Por Fernanda Serralvo, Terapeuta de Casal e Família.


"O amor é, talvez, aquele processo delicado através do qual eu te acompanho ao encontro de ti mesmo." Antoine de Saint- Exupéry

Novela História de Amor
Foto: novelasdaglobo.com
Historia de Amor chega ao fim e já deixa saudades.
Teve sua trama marcada pelo quadrilátero amoroso entre Carlos (José Mayer), Sheila (Lilia Cabral), Paula ( Carolina Ferraz) e Helena (Regina Duarte).
Nos primeiros capítulos da novela Carlos vivia um romance com sua colega de faculdade Sheila. A relação era caracterizada pela amizade e  companheirismo. Como dividiam o mesmo espaço de trabalho na Clínica, ambos mantinham-se sempre próximos. Entretanto, não era uma relação dita “formal”, com planos de futuro.
Ao conhecer a jovem e atraente Paula, Carlos se encanta e rompe relações com Sheila. Não demora muito para o casal fazer planos de casamento. A relação é marcada pelo ciúme descontrolado de Paula por Carlos, por seus “xiliques” de moça mimada e insegura. Contudo, por 'sorte' está ao seu lado, um homem com sabedoria e equilíbrio, o que facilita para lidar com o comportamento da moça. Apesar das crises de ciúme e  brigas sem fundamentos, a paixão, o carinho  são ingredientes presentes nesta relação. No entanto, no dia de selar os votos de casamento, Carlos já no caminho da igreja, presencia uma cena de briga entre o casal de namorados Joyce (Carla Marins) e Caio (Ângelo Paes Leme). A moça é empurrada do jipe por seu namorado. Carlos a socorre, leva à sua clínica e a revela sua gravidez. Apesar de chegar atrasado a cerimônia e se deparar com sua noiva aflita por tanto esperar, o médico não tira a cena de violência de sua cabeça.
E ao visitar Joyce, Carlos se encanta pela mãe da moça, Helena. A típica mulher brasileira, de meia idade que luta para pagar as contas do mês. Amorosa, amiga e educada. A mulher simples chama a atenção do médico e, a partir de então, a relação dá uma reviravolta. Carlos rompe com Paula e luta por seu novo amor. Carlos e Helena se apaixonam e todos os esforços são feitos para que esse amor seja vivido.
Simultaneamente o médio permanece recebendo os assédios de Sheila, que atravessa o limite da sanidade e ética para a reconquista de seu amor. Paula, desconsolada com a separação, usa de sua fragilidade e dependência para tentar reconquistar seu marido.

Voltando ao tema . . .
Antes de mais nada vem a pergunta... Podemos escolher quem amar!? Está em nós o controle de amar ou de deixar de amar!? Penso que não!? Muitas vezes nós também não sabemos explicar em palavras o porque amamos alguém, talvez porque na área do amor não procuramos muitas explicações.
Proponho sairmos um pouco do contexto da trama de “Historia de Amor” de Manoel Carlos, e pensarmos um pouco no assunto de forma geral.
São diversos os motivos que faz nos encantarmos por alguém, seja pelo jeito, gesto do outro, forma do outro ver a vida. Somos atraídos pelas semelhanças do outro, pelas diferenças, enfim, são infinitas as possibilidades de caminhos que nos levam a amar. Por outro lado, há pessoas com as quais não conseguimos nem cogitar a possibilidade de encarar uma relação.
É importante destacar algumas dinâmicas que se dão no processo da escolha do parceiro.
Primeiramente, que nossas escolhas pelo parceiro estão intimamente ligadas a motivações inconscientes: Desde a mais tenra infância, somos conduzidos a aprender basicamente tudo, a andar, a comer, a vestir-nos, a desenhar, enfim, são várias as atividades que somos treinados no dia a dia. Assim também não é diferente com o casamento. São construídos em nós, ao longo da vida, “conceitos” do que vem a ser o casamento, conceitos estes oriundos de experiências pessoais. Em muitas famílias há a ideia de que casamento é um sonho a ser realizado, e todas as investidas, projetos e comunicação perpassam para a realização deste sonho. Já em outras, o casamento é algo tão negativo que precisa ser rechaçado, que casamento nada tem a ver com felicidade. Não há dúvidas de que ocorrerá diferentes resultados entre esses dois padrões no estabelecimento do casamento, ou do não-casamento. Pode-se dizer que, é através desta dinâmica que são construídos os mitos e os legados familiares.
A escolha do parceiro é motivada e tem consequências transgeracionais, ou seja, nos remetemos ao nosso modelo parental. Neste caso, nossa figura de referência – pai e mãe – é nosso modelo a ser seguido ou evitado. Nossas expectativas, idealizações são em função desta figura. A partir da visão da relação dos pais, o indivíduo cria um esquema de como relacionar-se consigo mesmo e no futuro com seu parceiro, incluindo a expressão de afeto, a forma de resolução de conflitos ou manejo das dificuldades enfrentadas. A tendência neste caso, é que haja uma manutenção de padrão familiar. Um claro exemplo é quando a filha cresce ao lado de um pai violento, onde esta presencia diversas cenas de agressão para com sua mãe, e ao crescer a filha casa-se com um homem que a agride. Também existe o caso onde a busca pelo parceiro é totalmente averso. Quando há a negação desta figura, e a busca pelo parceiro seria pela diferença. O exemplo deste segundo seria a filha que tem o pai constantemente desempregado em casa, e esta se une ao parceiro que trabalha excessivamente.
Pais maduros constroem filhos seguros. E isso muito tem a contribuir para a escolha do parceiro. Numa época em que os arranjos familiares são os mais diversos (pais divorciados, pais recasados, maternidade\paternidade independente, união homoafetiva), também aumenta o desafio na criação dos filhos. Contudo, há um ingrediente salutar para o estabelecimento e manutenção de uma relação funcional. A boa comunicação é fundamental para a criação de vínculos e afetos. Através da comunicação eu conheço o outro, e o outro tem a chance de me conhecer. Nesta dinâmica saudável, possibilitamos a escuta, a acessibilidade, e principalmente o sentimento de pertencimento ao grupo familiar; e a medida que crescemos há a clareza do que queremos e do que não queremos como casamento.
Concluindo, seja qual for a forma em que se estabelece uma relação, o casamento demanda dos parceiros esforços no sentido de construir sua nova identidade, já que deixará de ser filho e passará a exercer um novo papel, agora como cônjuge; construindo juntos uma nova família. E nesta caminhada, é preciso um constate amadurecimento emocional, para passar pelas mudanças inerentes ao ciclo de vida do casal. Quando os casais desconhecem essas mudanças, a possibilidade de crise conjugal é grande. E muitos, não sabendo lidar, buscam subterfúgios, como na relação extraconjugal, trabalhar excessivamente para não olhar para o casamento, entre outras forma de sabotar a relação.
Entretanto, há casais que procuram ajuda na Terapia de Casal para superarem as crises. Um recurso muito útil para pensarem a conjugalidade e se verem além das culpas e acusações. Um espaço onde se possibilita ao casal pensar os “porquês” de suas escolhas, para terem a chance de ressignificar a  relação e sair desse processo terapêutico sob uma nova ótica relacional.


Fernanda Serralvo - Terapeuta de Casal e Família
Foto: Arquivo Pessoal

Nenhum comentário:

Postar um comentário